Entidades divulgam orientações para o retorno de cirurgias eletivas durante a pandemia de COVID-19

Carta de apresentação das especialidades envolvidas

O surto do novo coronavírus, inicialmente denominado 2019-nCoV, assim que descrito em Wuhan China, e agora conhecido como SARS-CoV2, resultou na declaração de estado de pandemia pela OMS em 11 de março de 2020. O estado de exceção e ineditismo determinado pela pandemia implicou em grandes transformações sociais, com enorme impacto (imediato e tardio) sobre a saúde pública e privada mundial. No Brasil, o primeiro caso foi detectado em 25 de fevereiro de 2020 e o poder público estabeleceu medidas de prevenção e controle da COVID-19, seguindo critérios epidemiológicos, sanitários e legais. Entre essas medidas, recomendou-se o cancelamento provisório de procedimentos cirúrgicos eletivos. Prontamente, médicos, entidades associativas e organizações de saúde cancelaram procedimentos eletivos em todo o país. Muitos pacientes tiveram suas cirurgias necessárias, mas não emergenciais ou de urgência, adiadas devido à pandemia. Levou-se em consideração diversos fatores: características individuais de cada doente e sua doença; questões de segurança quanto a transmissão/infecção, tanto para os pacientes, quanto para os profissionais de saúde; preservação de leitos hospitalares e de UTI, além de equipamentos de proteção individual (EPI) para eventuais picos de incidência da infecção. Excetuando-se cirurgias emergenciais e de urgência, que não mudaram suas indicações, vasto número de cirurgias foram adiadas por todo o país.

É incerto saber qual será o padrão futuro da atividade da COVID-19, mas certamente há grande impacto para o Brasil. Entretanto é certo um fato a ser analisado, o caráter dinâmico da evolução, assim como diferenças no seu comportamento regional em nosso país continental, sem mencionar as abissais diferenças regionais na qualidade dos serviços de saúde pública e privada. A distribuição da crise sanitária não é homogênea e simultânea em todo o planeta. No Brasil, um país de dimensões continentais, a distribuição é díspar assim como o período dos picos de infecção viral. Nesse sentido o poder público tem um papel fundamental na avaliação permanente do comportamento geográfico da disseminação da COVID-19. Por outro lado, a pandemia não impediu a evolução natural de afecções não relacionadas ao novo coronavírus.

O retardo no início, ou na continuidade, do tratamento daqueles pacientes com doenças não emergenciais, pode resultar em aumento da morbimortalidade. Nesse cenário o Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC) preocupado com essa situação considera imperativos o planejamento e a organização conjunta da retomada do atendimento. Muitos dos casos que o paciente não corre risco emergencial, estão tendo sua morbidade aumentada documentada em diferentes países, o que levou diferentes associações a definir planos estruturados de retomada, como por exemplo o American College of Surgeons (ACS). Alguns destes pacientes estão sofrendo com dor e outros estão diminuindo suas chances de sucesso no tratamento pelo adiamento. Entidades da saúde também devem se preocupar com esse grupo e considerar um planejamento do tratamento destes pacientes. Em especial com aquelas patologias cujo atraso do tratamento resulta em piores resultados, pois isso não só aumenta as complicações como gera uma sobrecarga ainda maior ao sistema de saúde. Em outros países a pandemia tem demonstrado picos intermitentes de agravamento, o que pode retardar ainda mais o tratamento dos pacientes considerados não emergenciais.

Os Sistemas de Saúde em todo o mundo estão sendo desafiados, como nunca antes na história recente. Após a primeira onda dessa pandemia ficar para trás, o volume de doentes com necessidades de tratamento cirúrgico poderá ser crítico, e os hospitais e profissionais de saúde devem estar preparados para atender a essa demanda. Haverá novamente o risco de colapso do sistema de Saúde pela concomitância de tratamento postergados e novos pacientes acometidos da COVID-19.

Um dilema se estabelece: Como retornar o tratamento de doenças graves não emergenciais e evitar complicações?

Assim, propomos um protocolo de orientações sistematizadas para auxiliar o retorno do médico e dos serviços de saúde a esse novo período de convivência nosocomial e comunitária com a COVID-19.

A rigorosa adesão aos protocolos de cuidados aqui propostos, de uma maneira global, visa auxiliar o retorno às atividades cirúrgicas com um certo grau de normalidade, primordialmente visando a redução de custos socioeconômicos. A forma de aplicar e utilizar esse conjunto de ações deve ser adaptada de acordo com as determinações governamentais, recursos locais e dados epidemiológicos loco-regionais da presença e carga da doença.

A retomada das operações eletivas poderá ser empregada por várias especialidades, mas sempre considerando o benefício do indivíduo em relação a diminuição das mortes colaterais à epidemia no Brasil. Quando consideramos todas as causas de morte no Brasil fica evidente a importância de manter o tratamento dos pacientes com outras enfermidades que não o COVID-19. Importante destacar que uma retomada de forma não estruturada pode resultar em aumento da mortalidade.

As entidades que compõem este grupo colaborativo apresentam esse conjunto de princípios e considerações, para a retomada segura e consciente dos tratamentos cirúrgicos eletivos, sem perder de vista e mantendo todas as medidas de prevenção e controle de infecção para a COVID-19.

Confira a carta completa no anexo:

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